Sex, 24 de Setembro de 2010 08:26
Correio Braziliense
Correio Braziliense - Problemas de infraestrutura fazem com que os servidores discutam paralisação
A nova sede da Câmara Legislativa do Distrito Federal revela problemas de infraestrutura menos de dois meses após a inauguração do edifício de R$ 106 milhões. Duas servidoras levaram um susto na manhã de ontem, quando, segundo elas, um dos elevadores despencou do 5º andar até o 3º subsolo do luxuoso prédio no Setor de Indústrias Gráficas (SIG). Nenhuma delas ficou ferida com gravidade, mas a falha fez com que o Sindicato dos Servidores do Poder Legislativo e do Tribunal de Contas (Sindical-DF) ameaçasse paralisação da categoria por falta de condições de trabalho.
O incidente ocorreu por volta das 9h30. As funcionárias Maria Lindinalva, 50 anos, e Naiza Nunes, 41, entraram no elevador no mesmo andar, no 5º pavimento. “Eu ia ao térreo e ela (Maria), ao 2º andar. Ficamos uns 5 minutos paradas no 4º piso e depois as luzes se apagaram. Foi quando caímos”, relembrou Naiza. A colega ficou em estado de choque. “Só eu e Deus sabemos o que eu passei”, afirmou, logo em seguida. Após os momentos de agonia, Maria precisou de um tranquilizante, oferecido pela equipe da saúde do local, para se acalmar.
Segundo a servidora, esta é a segunda vez que o mesmo elevador despenca enquanto ela estava dentro. Há cerca de duas semanas, a queda ocorreu do 5º andar até o primeiro subsolo. Outros funcionários da Câmara Legislativa, que preferiram não se identificar por temer represálias, disseram que os equipamentos apresentam com frequência problemas, como tremores e picos de luz. “Todos aqui reclamam por conta disso. Na outra vez, eu não reclamei, mas desta vez não vou ficar calada”, indignou-se Maria.
O presidente do Sindical-DF, Adriano Campos, criticou as atuais condições da Casa. Segundo ele, as falhas deveriam ter sido sanadas antes que os servidores ocupassem a nova sede. “Não há condições de trabalho em meio a obras. Não descartamos uma paralisação. A segurança está comprometida”, avaliou. Será realizada uma assembleia na próxima semana para discutir o assunto. O sindicato também denunciou que não foram fixadas placas de alerta nos elevadores, exigidas pela Lei Distrital nº 3212/03. “A lei deles não é respeitada por eles próprios”, disse o secretário-diretor do Sindical-DF, Moacir Amaral.
“Nada aconteceu”
Apesar do susto das duas servidoras, os responsáveis pela Câmara Legislativa negam o incidente com um dos elevadores. O consultor da Diretoria de Administração e Finanças, George Burns, defendeu que o equipamento não despencou. Faria parte de uma medida de emergência, que leva o elevador ao subsolo para que a pessoa possa sair. “Em qualquer problema, este é o procedimento-padrão”, explicou. Segundo ele, não haverá interdições. O presidente da Otis no DF, responsável pela manutenção dos elevadores, Ricardo Branquinho, também disse que não houve problema. “Nada aconteceu”, resumiu. Em nota, a empresa reafirmou que o equipamento “não despencou”. Ainda assim, será feita preventivamente uma “revisão geral nas portas de pavimento”.
Os servidores da Câmara Legislativa trabalham em meio a obras desde a inauguração, em 2 de agosto (leia Para saber mais). Mas Burns alegou que a Casa ainda não foi entregue oficialmente pela Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap). O engenheiro responsável pela construção, Bruno Isac, contestou a informação. Afirmou que entregou o edifício parcialmente pronto em 1º de julho deste ano e, em 1º de outubro, estará totalmente concluído. “Só estamos fazendo os últimos reparos”, esclareceu. A Novacap, por meio da assessoria de imprensa, confirmou que a obra está entregue.
Por conta disso, os servidores reclamam de problemas de infraestrutura no novo prédio. Adriano Campos, do Sindical-DF, revelou que outros acidentes ocorreram no local em consequência de pisos desnivelados e soltos. “Acontece muito de alguém cair, principalmente as mulheres que usam salto alto”, contou. Segundo ele, os aparelhos de ar condicionado só funcionam em algumas seções e com frequência há falhas em fechaduras e em instalação de móveis. Haveria ainda servidores que sofrem de alergia por conta da poeira. Para ele, a transferência se mostrou precipitada.
Não há condições de trabalho. Não descartamos uma paralisação. A segurança está comprometida” - Adriano Campos, presidente do Sindical-DF
Para saber mais
Suspeitas de irregularidades
Em 1991, quando o DF conquistou a autonomia política, a Câmara Legislativa foi instalada em uma sede provisória, no fim da Asa Norte. A promessa era de ocupar o prédio, emprestado da Emater-DF, até a construção de um edifício próprio. Um concurso público foi aberto para a escolha do novo projeto, até então orçado em R$ 42 milhões. Dez anos se passaram até que a proposta começasse a sair do papel. Determinou-se o início das obras em 2000. Por diversas vezes, no entanto, a construção acabou interrompida por questionamentos na Justiça e por falta de dinheiro.
Em 2007, a área do prédio teve de ser ampliada. O custo cresceu junto. O orçamento saltou para R$ 72 milhões. As compras de mobiliários, sistema de ar condicionado central, vigilância monitorada e iluminação de última geração encareceram ainda mais a construção. Ao fim das obras, a Câmara Legislativa custou R$ 106 milhões. Suspeitas de superfaturamento geraram representações no Ministério Público do DF, que até hoje são analisadas.
www.sindical.org.br
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